7 Pecados Capitais dos Escritórios Chatos

Parece disco riscado em vitrola cansada... o bendito (maldito) home office continua em pauta no politicamente correto da mídia e nas lamúrias irascíveis dos corredores.

De um lado, os trabalhadores experimentando a sensação de liberdade no ir e vir. Do outro lado, os chefes irritados com os escritórios vazios e as câmeras fechadas. Fortes defesas apaixonadas de lado a lado. No meio, uma pergunta: qual o impacto da abstração do lócus na cultura organizacional?

Legítimo questionamento diante da relevância dos aspectos culturais sobre o próprio desempenho empresarial. Seria, então, possível produzir resultados sustentáveis superiores sem a contínua socialização de indivíduos sob a orquestração e articulação de lideranças?

Muito já se discutiu e se escreveu sobre as tentativas (muitas vezes, frustradas) das empresas em atraírem seus funcionários de volta para os escritórios. Assistimos de tudo um pouco... Desde sessões de cineminha com pipoca até shows pop rock com rodadas de cerveja... Até mesmo os pets (mas não as crianças) têm sido bem-vindos nas lajes corporativas. Incrível (apesar do cheiro)!

Alguma reflexão tem surgido em torno do próprio papel dos escritórios nesse "novo normal" da vida corporativa. Dentre diferentes possibilidades, um fio condutor parece ser comum: "os escritórios estão se tornando pontos de encontro mais informais, com pantone mais caloroso... o resto se faz em casa mesmo", afirmam vozes animadas. Enquanto muitos ainda pensam com seus botões: "como vamos trazer esse povo de volta para o escritório?".

Ainda é cedo para considerarmos esse jeito como o novo jeito de fazer as coisas... Mais razoável afirmar que estamos no olho do furacão... Onde, inclusive, muitos líderes advogam em prol de suas próprias preferências e necessidades.

Um outro olhar para o fenômeno de abstração do lócus é refletirmos sobre a responsabilidade que deve ser atribuída à própria trajetória evolutiva dos escritórios nas últimas décadas. Afinal, fossem os escritórios ambientes absolutamente encantadores, a pauta atual seria outra. Lajes abandonadas também carregam sua parcela de culpa ... não são meras vítimas. Portanto, seguem abaixo os 7 Pecados Capitais dos Escritórios Chatos:

1. "Mesão Enlatado". As escrivaninhas se transformaram em cubículos para serem concatenadas em mesonas com cadeiras volantes. Adeus porta-retrato da família e bibelots bregas! Adeus gaveteiro! Adeus livros e fichários! As mesonas vieram aparelhadas apenas com monitores e réguas de energia. As cadeiras foram enfileiradas na maior otimização de metragem quadrada possível. A poluição sonora somou-se à absoluta falta de privacidade no enlatamento de pessoas.

2. "Luzes, Câmeras, Pressão!". As lajes se tornaram cada vez mais claras e intensas. Sucessivas lâmpadas brancas somaram-se às telas iluminadas dos computadores e resultaram em forte sensação de cansaço dos olhos ao longo de rotinas.

3. "Pequenos Espaços para Sonhos Grandes". O subdimensionamento generalizado criou filas maiores que nos parques de diversões: na garagem, nos elevadores, no banheiro, no refeitório e nas disputadas salas de reunião. Mais recentemente, filas para acesso às cabines telefônicas.

4. "Assepsia em Escala". Os ambientes foram sendo decorados por mobiliário produzido em larga escala, sem identidade. Mais ou menos nos mesmos tons neutros, posicionados em pisos elevados cinzentos, situados abaixo de tetos de espuma com holofotes, monitorados 24x7 por câmeras de vigilância, equipados com monitores e cadeiras pretas. Nas paredes colaram-se os tradicionais valores enunciados (muitas vezes não praticados) ao lado das impressoras industriais. Nos centros, o fosso dos elevadores e os banheiros coletivos.

5. "Empilhamento de Gente". A verticalização dos solos urbanos foi inexorável diante da especulação imobiliária, inviabilizando o uso de imóveis monousuários para a grande maioria das empresas. A compra de metragem quadrada em retalhos de lajes em prédios envidraçados criou dinâmicas menos fluidas, reforçando silos entre áreas e distâncias entre hierarquias. Desespero para estacionar pela manhã, loucura para se deslocar no almoço, irritação intoxicada para enfrentar as filas de carros dentro das garagens.

6. "Pinguins em Câmeras Frias". A climatização em ar-condicionado - como o próprio nome diz - condicionou o clima dentro das lajes envidraçadas. A impossibilidade de abertura de janelas em arranha-céus, a dureza das selvas de pedra que invalidam o verde, a ausência do canto dos pássaros, a falta de horizonte nos olhares. O resfriamento resultou em resfriados compartilhados.

7. "Ilhas Engarrafadas". A concentração de prédios corporativos em pequenas áreas centrais deslocou as moradias para as periferias e os subúrbios. Os deslocamentos apenas se tornaram mais lentos, longínquos e enfadonhos - em alguns casos até mesmo perigosos diante da violência urbana. Madrugar para chegar no horário e morgar no retorno caótico tornaram-se a rotina diária enlouquecedora de milhões e milhões de pessoas.

Quem teria saudades em retornar para lugares chatos como esses? Concluindo, o tão sonhado retorno ao escritório para tantos chefes está também associado a uma dura reflexão sobre seus apetites por realmente investirem em ambientes produtivos, criativos e significativos. Caso contrário, a resistência continuará sendo grande.